SOBREVIVÊNCIA APARENTE DE PASSERIFORMES EM UMA FLORESTA NEOTROPICAL SECA EM FUNÇÃO DA DISPONIBILIDADE DE ALIMENTO E ROTINAS DO CICLO ANUAL
Reprodução – Muda de Penas – Artrópodes – Mark – Semiárido
Trópicos secos, são ambientes imprevisíveis quanto a ocorrência e volume de chuvas, elas limitam a disponibilidade de alimento e influenciam a intensidade do esforço reprodutivo e muda de penas de voo em Passeriformes. Reprodução e muda, são atividades de alta demanda energética, e contribuem para o fitness de uma ave, portanto, apresentam o potencial de consistirem em um trade off com a sobrevivência, porque enquanto são realizadas podem expor as aves ao risco aumentado de predação e doenças. Nos ambientes semiáridos tais atividades ocorrem no período de maior oferta de alimentos, que coincide com a estação chuvosa. Ao contrário, com a menor oferta de alimento essas atividades devem então ser suspensas no início da estação seca. Se elas são atividades custosas e podem afetar a sobrevivência das aves, testamos as hipóteses de que: (1) o período reprodutivo e de muda de penas de voo afetem negativamente a sobrevivência aparente e (2) que a sazonalidade na oferta de alimento, com alta disponibilidade durante o período reprodutivo e de muda, não é capaz de impedir o declínio na sobrevivência durante este período de alto metabolismo individual. Para testar nossas hipóteses, entre nov/2016 e jun/2018, em uma área de Caatinga, florestas sazonalmente secas encontradas no Nordeste brasileiro, realizamos a captura-marcação-recaptura (CMR) de quatro passeriformes insetívoros e verificamos a ocorrência de placas de incubação, um indicador do período reprodutivo, e a presença de muda nas penas de voo das asas. Além disso estimamos ao longo do estudo a disponibilidade de artrópodes utilizados na dieta da assembleia de aves. Convertemos os dados de CMR das quatro espécies conjuntamente em históricos de encontro e utilizamos a formulação Cormack-Jolly-Seber (CJS) para construir os modelos demográficos e estimar as probabilidades de sobrevivência e recaptura das aves. Nesses modelos incluímos as variáveis reprodução, muda e disponibilidade de alimento, para testarmos as hipóteses. O programa Mark, nos auxiliou na geração dos modelos demográficos. Nossos resultados confirmaram a hipótese de que o período reprodutivo afetaria negativamente as estimativas de sobrevivência das aves. Entretanto, as hipóteses de que a muda de penas, e a limitação de alimentos na estação seca afetariam negativamente a sobrevivência não foram confirmadas, sugerindo a inexistência de um trade off entre sobrevivência e reprodução. Além disso pode ser possível a existência de mecanismos comportamentais e fisiológicos que fazem as aves de regiões semiáridas tolerarem a escassez de alimento no período pós-reprodutivo.