MORFOLOGIA DA SUPERFÍCIE LINGUAL DE ODONTOCETOS (MAMMALIA: CETARTIODACTYLA, DELPHINIDAE)
Golfinho, morfologia, histoquímica, ultraestrutura, varredura.
Os cetáceos são mamíferos adaptados ao ambiente aquático, e essas adaptações representam
um notável nível de evolução. Em contrapartida, ainda existem lacunas quanto aos aspectos
morfológicos adaptativos nesses animais, incluindo a morfologia da língua, a qual fornece
informações essenciais para compreender a relação morfológica ao longo do curso evolutivo,
refletido pela dieta, habitat e função. Nesse sentido, esta tese tem como objetivo descrever a
morfologia da língua de odontocetos encalhados vivos que foram a óbito durante a
reabilitação, ou de animais mortos encontrados durante o monitoramento de praias realizado
pelo Projeto Cetáceos da Costa Branca, nas praias do litoral do Rio Grande do Norte, Brasil.
Para isso, foram realizadas dissecações macroscópicas, análises em microscopia de luz,
histoquímica e microscopia eletrônica de varredura (MEV) em quatro espécies de odontocetos
(Globicephala macrorhynchus, Grampus griseus, Stenella clymene e Stenella longirostris).
Macroscopicamente, línguas mais espessas e arredondadas foram observadas nas espécies que
se alimentam por sucção (G. macrorhynchus e G. griseus), enquanto línguas delgadas e
alongadas foram características daquelas que utilizam preensão raptorial (S. clymene e S.
longirostris). Microscopicamente, todas as línguas apresentaram mucosa com epitélio
escamoso estratificado queratinizado, glândulas linguais com diferentes distribuições na
lâmina própria e uma camada muscular bem desenvolvida. Foram identificados dois tipos de
papilas linguais: marginais e valadas. As papilas marginais variaram em número e forma,
enquanto as valadas estavam organizadas em padrão de 'V' na raiz da língua. Não foram
identificados botões gustativos nas papilas analisadas. A análise histoquímica revelou a
presença de células serosas e mucosas com diferentes composições. A MEV evidenciou
estruturas de superfície compatíveis com queratinócitos e poros glandulares. Os resultados
sugerem que as diferenças morfológicas estão associadas às estratégias alimentares,
evidenciando adaptações funcionais da língua ao comportamento alimentar de cada espécie.
Estudos adicionais com um maior número de amostras e em diferentes estágios ontogenéticos
poderão aprofundar o conhecimento sobre o papel da língua na ecologia alimentar desses
cetáceos.