Bilica: História Oral e Narrativas de uma Vida na Prostituição
História oral. Narrativas de vida. Prostituição. Cabaré. Interdisciplinaridade. Mossoró.
Resumo “Dinheiro na mão, calcinha no chão”. Essa frase, de modo muito limitado e insuficiente reporta um imaginário popular sobre a vida das trabalhadoras do sexo, entretanto, esse trabalho traz muito mais do que pode supor o estereótipo social construído em torno das mulheres que trabalham no mercado do sexo. Numa tentativa de fugir do estigma que permeia a mulher prostituta, o presente estudo busca, por meio da história oral e da escuta de narrativa, apresentar a vida de Bilica, uma potiguar de 75 anos, natural de Patú/RN, dona de cabaré há 30 anos em Mossoró/RN. A escolha pela memória contada e histórica narrada pela própria protagonista de uma vida se deve ao reconhecimento do pertencimento de Bilica à paisagem sociocultural do sertão nordestino, especialmente no mapa regional que tece as fronteiras subjetivas e imprecisas entre os estados do Rio Grande do Norte, da Paraíba, do Ceará e de Pernambuco. Com o objetivo de oferecer à história local a biografia autonarrada de uma figura de mulher, cuja vida se fez à margem dos poderes masculino, intelectual e burguês, à margem do moralismo patriarcal e cristão e à margem da cidade, mas que gravou seu nome nas ruas, nas mesas de bar e mesmo nas páginas policiais. Enquanto homens históricos, inclusive frequentadores de seu estabelecimento deram nome às ruas, auditórios, praças, aeroportos e cidades da região, Bilica era nome sem história. Pobre, periférica, analfabeta e prostituta seu lugar seria o do folclore e aquele da vigência na memória de transmissão oral. Já a coleta de sua história oral de vida e a escuta de narrativa de suas memórias permitirá a transmissão intergeracional e sua retirada das margens às lutas das mulheres pobres e periféricas, das putas e das iletradas, uma senhora idosa com vivências e experiências ao longo do tempo que lhe proporcionaram saberes, respeitabilidade e sustentabilidade social. Se o meretrício sempre se compôs com a história das cidades, que ocupe um lugar de memória e história, que uma das putas famosas da cidade passe de lenda urbana à história de vida, como tem acontecido com os “cidadãos de bem”, que passam de histórias famosas a políticos históricos. Uma mulher na terceira idade que ainda trabalha no ramo na prostituição também tem história, também esteve na confecção da cidade, se não na história a ser lembrada, na história a ser esquecida, mas esse destino pode mudar pela oportunidade da pesquisa interdisciplinar.