AMBIÊNCIA UNIVERSITÁRIA NA EXPERIÊNCIA DE PESSOAS COM DEFICIÊNCIA E MOBILIDADES REDUZIDAS
Percurso comentado. Acessibilidade. Pessoas com deficiência. Ambiente sensível. Universidade.
O presente trabalho discute a ambiência universitária percebida nos trajetos percorridos por pessoas com deficiência e/ou mobilidades reduzidas em uma instituição de ensino superior do semiárido brasileiro. Os intercessores teóricos principais são Jean Paul Thibaud, com o entendimento sobre a percepção sensível dos ambientes e a escolha do método que construímos, pois nos inspiramos em sua proposição de caminhos de pesquisa definida pelo sociólogo como - o percurso comentado. Esta proposição potencializa o campo de investigação interdisciplinar com uma metodologia e procedimentos pertinentes à observação e análise das relações perceptivas entre as pessoas e os ambientes que habitam. Regina Cohen, arquiteta e pesquisadora brasileira, com suas construções sobre as relações entre o ambiente construído e os modos perceptivos, sensório motores e sensíveis de acoplamento entre as pessoas com deficiência e a cidade, enfatizando a dimensão da acessibilidade e da inclusão social. A autora desenvolve estudos interdisciplinares desde seu olhar como arquiteta, construções que, em nosso entendimento, trazem possibilidades de subsidiar mudanças e transformações nas ações de gestores nas instituições da educação. Outros pesquisadores se fazem presentes na composição da escrita, ao tematizar os materiais, as tecnologias, as construções realizadas e presentes na universidade, quando o propósito é fortalecer processos de acessibilidade e a efetiva inclusão de pessoas com deficiência na educação superior. A pesquisa é de grande relevância social e científica, tendo em vista a urgência e necessidade de promoção de verdadeira e efetiva forma de inclusão educativa na educação, em consonância com os avanços na legislação brasileira e mundial e as responsabilidades de gestores e cidadãos no nosso mundo comum. A percepção sensível do ambiente, a escuta do que se passa nos percursos cotidianos, estas são pistas para a composição do acervo empírico da pesquisa. As escritas e imagens emergem como modos de linguajar dos participantes e são discutidas com base nas construções sobre as afecções do corpo, a partir do que aprendemos com Baruch Spinoza. Este importante filósofo nos apresenta uma obra sobre a essencialidade do afeto na dinâmica da vida e dos encontros, uma ética afirmativa da vida, introduzindo matéria concreta sobre a afetividade, tão presente nesta pesquisa, reflexões e entendimentos necessários nos estudos interdisciplinares envolvendo os ambientes nas instituições da educação. Ao percorrer o percurso com os participantes e sentir-vivenciar-transformar, não só as percepções do ambiente, mas o que aprendemos na convivência, entendemos que é possível esta troca primordial para o exercício de uma pesquisa que desejamos possa contribuir, não somente com a comunidade a que ela, primeiramente, se destina, - comunidade acadêmica - mas, também, com a construção de sabedoria e conhecimentos,urgentes e necessários, em uma proposição da educação em perspectiva inclusiva. A análise do material empírico foi construída em abordagem qualitativa, procurando marcar as recorrências percebidas por meio da transcrição de narrativas e filmagens realizadas, ações de pesquisa seguidas de um rigoroso trabalho de leitura e análise. Identificamos marcadores que nos possibilitam explicar e responder a questão central da pesquisa: coordenações de condutas na linguagem, recorrências, diferenças nas ações linguajantes: emoções, ideias, gestos, proposições. Importante ressaltar que buscamos identificar e refletir o que emerge nos trajetos e nas narrativas dos participantes, marcando as perguntas que fazem a si próprios, inquietações e percepções manifestas nos encontros e percursos, de modo a compreender como as pessoas com deficiência estabelecem modos sensórios motores de acoplamento com a experiência na universidade, suas relações com a ambiência universitária, com a atenção deslocada para perceber transformações nas emoções, ideias, ações, possibilidades, fragilidades/dificuldades percebidas ao sentir e vivenciar suas relações com o ambiente que lhes afeta no cotidiano do viver-conhecer. O percurso foi realizado com a orientação e responsabilidade inicial da autora, mestranda, e reconstruído, transformado, com os participantes. Como aprendizagens e conhecimentos construídos, os resultados da pesquisa permitem visibilizar que as pessoas com deficiência vivenciam as afecções do corpo nas relações diretas e imediatas que estabelecem durante os trajetos percorridos e nas narrativas em encontros nos quais puderam compartilhar os saberes de uma experiência de pesquisa intervenção. O estudo possibilitou a visibilidade de percepções sensíveis do ambiente universitário trazidas pelos membros da comunidade acadêmica, pessoas com deficiência - transformações de ideias, emoções, imagens e acontecimentos. Podemos aqui destacar que viver em condições perceptivas e sensório-motoras diferentes transforma o modo como as pessoas se acoplam e interagem com o ambiente, os processos, as atividades que são requeridas no fazer cotidiano. Fizemos maior aproximação desta experiência sensível no contexto de uma universidade federal do semiárido brasileiro que atualmente se vê diante da tarefa de fazer cumprir as leis da inclusão educativa e de executar ações afirmativas, políticas que tem como propósito a redução de desigualdades sociais no Brasil. É, ainda, restrito o número de pessoas com deficiência e mobilidades reduzidas na universidade. Nosso estudo integrou construções sobre as políticas públicas voltadas a atender os grupos que sofrem discriminação, leis e normativas que definem a obrigatoriedade de políticas e ações dirigidas à equidade e às reparações históricas em nosso país. Esta pesquisa colocou em relação discussões sobre os direitos dos cidadãos, a inclusão universitária e as ações afirmativas, relacionando estas construções que interagem com avanços e redefinições advindas de movimentos sociais organizados na sociedade, enfrentamentos de preconceitos e discriminações, com as percepções sensíveis no ambiente trazidas pelos sujeitos participantes. Os resultados tornam-se importantes, ao visualizarem o que efetivamente acontece e as necessárias melhorias a serem executadas para a efetivação das políticas sociais e educativas de inclusão e equidade na universidade. Como proposição de continuidade dos estudos, a autora destaca seu propósito de dar seguimento e aprofundar estas construções em processo futuro de formação em nível de doutorado e afirma a necessidade de estudos que analisem a efetividade da execução de políticas públicas de inclusão educativa na educação superior, ações nas quais, a acessibilidade e a inclusão por meio da estruturação do ambiente construído é uma dimensão necessária. As imagens do ambiente e as autonarrativas percebidas durante percursos com os participantes visibilizam o conceito de educação que verdadeiramente opera no viver da comunidade acadêmica.