JOGOS TEATRAIS, GÊNERO E SEXUALIDADE NA EXPERIÊNCIA DE PESSOAS SURDAS EM CONTEXTO EDUCACIONAL.
Pessoa surda. Gênero. Sexualidade. Teatro do Oprimido.
A pesquisa que realizamos discute as relações de gênero e sexualidade que
emergem nos jogos teatrais construídos por alunas surdas em uma escola de
Mossoró/RN. Ao trabalhar com a arte educação e conviver com diferentes
circunstâncias referidas ao modo como em nossa sociedade acolhe ou segrega
as pessoas em virtude de seus diferentes modos de viver o amor e a
sexualidade, o autor faz a seguinte pergunta: Como as pessoas surdas
entendem e modificam suas percepções sobre as relações de gênero e
sexualidade por meio do linguajar e da livre expressão possível nos jogos
teatrais? O tema é de grande relevância pessoal, comunitária e científica,
diante da dramática e brutalidade que acontecem diariamente em nosso país e
mesmo no mundo, quando fortalecemos uma cultura de exclusão e violência,
um viver que nega a biologia do amor, constitutiva nos processos de
conservação do viver humano. Tomamos como principais intercessores
teóricos Paulo Freire e Augusto Boal, para refletir sobre os conceitos de
autonomia, liberdade reflexiva e a ação no teatro; Humberto Maturana para
nossa compreensão sobre os movimentos da cognição e da vida cotidiana;
Guacira Lopes Louro, para pensar sobre as relações de gênero e sexualidade
no contexto da educação. A metodologia que empregamos foi qualitativa, na
forma de pesquisa-intervenção com jogos teatrais, seguindo pistas da
metodologia criada por Augusto Boal, o Teatro do Oprimido – TO. O campo
empírico da investigação foi a experiência construída com alunas surdos
atendidas no Centro Estadual de Capacitação de Educadores e Atendimento
ao Surdo - CAS. Realizamos os seguintes procedimentos de pesquisa: a
experiência criativa dos jogos teatrais, a escuta sensível de autonarrativas dos
participantes, transcrição das mesmas e o trabalho no qual construímos
marcadores da diferença, atentando para o modo de coordenar idéias,
emoções, entendimentos, especialmente as inquietudes percebidas e as
perguntas que as participantes se colocavam no ato de criação em que trazem
seus repertórios humanos, ao se depararem com questões envolvidas no eixo
gênero, sexualidade e vida cotidiana. Organizamos encontros para a ativação
da escuta sensível que nos permitiu compreender, inspirados na Biologia do
Conhecer, mudanças cognitivas relacionadas ao tema da pesquisa. Como
aprendizagens e resultados da pesquisa temos os movimentos da cognição
instaurados nos jogos teatrais, idéias, emoções e modos de compreender a
própria sexualidade e as relações de gênero na vida em sociedade. As alunas
puderam trazer circunstâncias de silenciamento dos corpos, expressar medos,
temores e angústias como emocionares presentes nas cenas do viver e nas
imagens teatrais. Ao mesmo tempo, o encontro e a dimensão coletiva do
estudo possibilitaram transformações na experiência. Gestos, idéias e emoções
nas narrativas foram recorrentes e apontaram para o fortalecimento da
autonomia e da liberdade reflexiva, de modo que as emoções se modificaram e
as participantes construíram jogos e imagens que configuram inéditos viáveis
na experiência da educação. O trabalho traz contribuições para a ciência e
nossa vida cotidiana, ao ampliar a reflexão sobre como estamos a construir
formas de convivência e aprendizagem nas diferentes circunstâncias nas quais
ganham visibilidade a diversidade dos modos de viver o amor e a sexualidade.