IMPACTO DA CONTAMINAÇÃO DO HERBICIDA 2,4-D POR DUAS VIAS DE
TRANSPORTE EM ESPÉCIES FLORESTAIS
Caatinga. Nordeste. Biodiversidade. Impacto ambiental.
O uso contínuo e intensivo de produtos químicos na agricultura pode gerar impactos ambientais
severos e, em alguns casos, irreversíveis. Entre esses produtos, destaca-se o herbicida 2,4-D,
cujo uso tem se intensificado com a adoção de cultivares transgênicas tolerantes. Quando
aplicado em áreas próximas a matas nativas e unidades de conservação, o 2,4-D pode afetar
negativamente a fauna e a flora, especialmente devido à sua alta volatilidade e potencial de
transporte por deriva ou água subterrânea. Nesse sentido, o presente trabalho teve como
objetivo avaliar os efeitos da contaminação de 2,4-D por duas vias de transporte em espécies
florestais presentes nos biomas da Caatinga e do Cerrado brasileiro. O experimento foi
conduzido em casa de vegetação localizada na Universidade Federal Rural do Semi-Árido. No
experimento de contaminação por água subterrânea (artigo 1), os tratamentos foram arranjados
em fatorial 10 × 2, com o primeiro fator correspondente as espécies florestais testadas e o
segundo fator a presença ou ausência de 2,4-D em água subterrânea, com quatro repetições.
Após o período de 35 dias de condução foram realizadas análises morfológicas como a
contagem do número de folhas, área foliar, altura da planta, massa seca da folha, do caule, da
raiz e a total para avaliar a sensibilidade das espécies a esse tipo de contaminação. A
contaminação de 2,4-D via água subterrânea afetou o número de folhas das espécies M.
tenuiflora e T. aurea. Os demais parâmetros morfológicos não sofreram alterações em
decorrência da exposição ao 2,4-D via água subterrânea. O consumo e a eficiência no uso da
água pelas espécies florestais não foram afetados pela contaminação de 2,4-D em água
subterrânea. A dissipação do 2,4-D no solo de todas as espécies florestais foi maior do que 90%.
O experimento de deriva simulada (artigo 2) foi arranjado em fatorial 10 × 5, sendo o primeiro
fator correspondente a dez espécies florestais e o segundo fator corresponde a cinco
concentrações de 2,4-D, simulando a deriva de 0, 5, 10, 15 e 20 % da dose recomendada do
herbicida 2,4-D. Após 35 dias da deriva de 2,4-D foram avaliadas a fitointoxicação das espécies,
número de folhas, área foliar, altura da planta, comprimento radicular, peso da massa seca da
folha, do caule, da raiz e a total. As espécies apresentaram sensibilidade quando expostas à
deriva simulada de 2,4-D. Os principais sintomas de intoxicação visual observado nas espécies
foram epinastia e necrose foliar. A deriva simulada do herbicida 2,4-D impactou negativamente
os parâmetros morfológicos avaliados de algumas espécies. As espécies C. glaziovii e H.
impestiginosus foram as espécies que apresentaram os sintomas mais graves de intoxicação
visual quando expostas a deriva de 20% de 2,4-D. O herbicida 2,4-D pode ser considerado um
potencial agente selecionador de espécies florestais dos biomas da Caatinga e do Cerrado
brasileiro quando transportado, principalmente, via deriva. Portanto, estratégias de conservação
de áreas do Cerrado e da Caatinga devem ser avaliadas em estudos futuros, devido a importância
ambiental desses biomas.