“O IMPORTANTE É VOCÊ CRER NA JUVENTUDE QUE EXISTE DENTRO DE VOCÊ”: O PROTAGONISMO JUVENIL COMO ESTRATÉGIA DE GOVERNAMENTALIDADE NEOLIBERAL EM COLEÇÕES DIDÁTICAS DE PROJETO DE VIDA DO NOVO ENSINO MÉDIO. |
Protagonismo Juvenil; Governamentalidade; Neoliberalismo; Novo Ensino Médio; Projeto de Vida.
A concepção de educação neoliberal, cujo princípio incide na individualização do sujeito com o propósito de tornar rentável todas as esferas de sua vida, penetra os discursos reformistas para o novo ensino médio. Sob essa ótica de rentabilização do eu, o discurso de protagonismo juvenil no interior dos materiais didáticos de projeto de vida figura estratégia de biorregulação que subjetiva o educando a fim atender às necessidades mercadológicas. Diante desse cenário, a presente pesquisa tem como objetivo principal analisar as implicações neoliberais em discursos acerca do protagonismo juvenil presentes em livros didáticos de Projeto de Vida. Como aparato teórico, mobiliza-se os estudos discursivos sob a inspiração de Michel Foucault, a partir de conceitos como discurso, enunciado, formação discursiva, verdade e poder em interlocução com autores como Dardot e Laval (2016) que discutem a racionalidade neoliberal e com autores como Goulart (2018); Souza (2008); Daniel e Silva (2023) e Ramos (2020) que fazem uma reflexão sobre o novo ensino médio e o protagonismo juvenil. Em relação à metodologia, o estudo se alinha a uma perspectiva descritivo-interpretativa e documental de base qualitativa. O corpus compreende enunciados extraídos de nove livros didáticos de Projeto de Vida aprovados pelo Programa Nacional do Livro e do Material Didático (PNLD), edição de 2021. O trajeto de leitura compreende a tríade que organiza as discussões nos livros didáticos – eu, a intervenção no mundo e o mundo do trabalho. Em relação ao eixo 1, foi possível identificar as relações de saber e poder que colocam o jovem numa esteira de empresariamento de si, evocando a necessidade do estabelecimento de metas, a curto e longo prazo, para concretização de seu projeto de vida. Em relação ao eixo 2, flagramos nos discursos uma vontade de verdade pela qual a relação com o outro e com o mundo constituem-se elementos imprescindíveis para o desenvolvimento pessoal, logo, compreendemos que, embora penetrado por diferentes relações sociais, o ‘eu’ ainda constitui questão central para governamentalidade neoliberal. O eixo 3, por seu turno, faz um mapeamento do mercado de trabalho ao assegurar as competências necessárias para tornar-se o sujeito de sucesso, reafirmando o discurso meritocrático de que o sucesso do projeto de vida depende, essencialmente, do engajamento do educando. As análises possibilitam pontuar que esses materiais didáticos tomam o protagonismo juvenil como uma estratégia de governo nos moldes neoliberais e isso incide na construção de subjetividades, flexíveis, adaptáveis. Com isso, busca-se padronizar as subjetividades, amainando possíveis insurgências, revoltas e contracondutas em relação à norma instituída, o que produz inevitavelmente sujeitos conformados, passivos e obedientes aos mecanismos de controle do neoliberalismo. Por fim, importam que outros estudos sejam realizados, com vistas a comprovar ou refutar os apontamentos defendidos no presente trabalho.