Retração da água induzida por seca prolongada direciona a convergência funcional da fauna de peixes de um reservatório do semiárido brasileiro
Seca supra sazonal. Distúrbio em rampa. Filtro ambiental. Diversidade Funcional.
Secas prolongadas (supra sazonais) constituem eventos climáticos de baixa previsibilidade, o que prejudica o nosso conhecimento sobre as respostas das comunidades aquáticas frente à distúrbios de longa duração. O entendimento das perturbações induzidas por secas supra sazonais é fundamental, porque modelos climáticos têm projetado o aumento na frequência e intensidade desses eventos. Nesse estudo, usamos a redução gradual do volume d’água, como medida de intensificação temporal de distúrbio induzido por uma seca supra sazonal (> 6 anos), para investigar as respostas da estrutura taxonômica e funcional das assembleias de peixes de um reservatório do semiárido brasileiro. Mais especificamente, investigamos as seguintes hipóteses: 1) a intensificação do distúrbio da seca (ramp disturbance) reduz gradualmente a diversidade taxonômica e funcional (ramp response) das assembleias de peixes e; 2) a intensificação do distúrbio atua como um filtro ambiental direcionando a convergência funcional das assembleias. Contrariamente à nossa expectativa, encontramos que a intensificação da redução do volume de água produziu repostas unimodais na maioria dos índices de diversidade taxonômica e funcional, porém com trajetórias diferentes. A abundância de indivíduos (CPUE) seguiu uma tendência de redução seguida de incremento ao longo do gradiente de distúrbio, enquanto a equidade de Pielou, diversidade de Shannon e dispersão funcional (FDis) apresentaram uma tendência inversa. Similarmente, a composição funcional mudou ao longo do gradiente de distúrbio, resultando na redução de abundância relativa de espécies migradoras, e de maior tamanho corporal e fecundidade e um aumento na abundância relativa de espécies onívoras, sedentárias e de menor tamanho corporal. Nossos resultados suportam as predições da hipótese de distúrbio intermediário e produzem evidências que a redução do volume d’água atua como um filtro ambiental seletivo, que direciona a alternância nos padrões de dominância dentro da comunidade através da substituição de espécies especialistas por oportunistas adaptadas às novas condições do sistema.